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A história da tecnologia é marcada por mulheres muito importantes. Os primeiros algoritmos de computador, a conexão wireless e o primeiro compilador para linguagens de programação, por exemplo, foram algumas invenções femininas que revolucionaram e deram espaço para outras inovações. Mas o curioso é que o cenário atual é completamente oposto: as mulheres programadoras são minoria e, embora o mercado se diga receptivo, ainda há uma participação tímida delas em salas de aula e empresas.
Enquanto o empreendedorismo feminino cresce, assim como a participação de mulheres em diversos segmentos, a tecnologia é uma área que ainda apresenta grande disparidade, quando comparamos a participação feminina e masculina. Na área de programação, a presença deles se destaca em maior número nos cursos superiores e nas empresas. Essa ideia não é coisa que notamos no dia a dia, mas sim algo confirmado por diversas pesquisas.
O último Censo do IBGE, divulgado em 2010, mostrou que apenas 22% dos alunos eram mulheres nas turmas de ciência da computação.
No mercado, elas são minoria também e representam apenas 17% do total de programadores, de acordo com dados apresentados no evento “Por um Planeta 50-50: Mulheres e meninas na ciência e tecnologia”, realizado pela Serasa Experian em parceria com a ONU Mulheres.
Mas o curioso é que as mulheres programadoras foram a maioria nesse mercado um dia. Assim como falamos acima, elas criaram linguagens inovadoras e tecnologias de destaque. No Brasil, nos anos 1970, a primeira turma de Ciências da
Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP era formada por 70% de mulheres. Em um cenário mais recente, a universidade apontou que em 2016 apenas 15% dos alunos eram do gênero.
A tendência se repetiu no mercado. Em 1984, as mulheres ocupavam cerca de 37% dos cargos em ciências da computação. Já em 2011, os dígitos não passavam de 12%. A consequência é agravante pois mostra que elas ficam de fora de uma das carreiras mais valorizadas do momento, que se desenvolve a cada dia, oferece melhores salários e maior perspectiva de ascensão de cargo.
Só que o problema não é apenas a baixa participação. Alguns estudos chegaram a mostrar que também existe pouca valorização. Uma pesquisa feita pelo GitHub, uma plataforma de hospedagem de código-fonte, apontou que os códigos escritos por mulheres só são melhor aceitos quando a autora não é divulgada. Os números ficam assim: 78,6% de aceitação para elas e 74,6% para eles.
Já a Women In Tech mostrou que as mulheres ficam mais estagnadas no nível básico da profissão que os homens. 46,1% das mulheres da indústria estão no nível iniciante, enquanto apenas 25,9% dos homens sofrem com esse problema. Quando os profissionais são mais jovens, a desigualdade ainda existe, mas é menor. 84,5% das mulheres entre 18 e 24 anos ocupam cargos iniciais, enquanto que para os homens a porcentagem é de 77,3%, o que mostra uma tendência de que as mulheres continuem a ocupar cargos júnior.
Depois dessa enxurrada de dados, deu para perceber que a situação está longe de ser ideal, não é? Mas ela é reflexo de um problema que é bem mais complexo. Listamos alguns motivos abaixo:
Aquela ideia de que as mulheres não se dão bem com exatas criou um efeito dominó gigantesco. Desde a infância, os meninos são mais estimulados a desenvolver o raciocínio lógico. Na escola, também é comum ouvir que eles se dão melhor em matérias como matemática e física. Tudo isso gera uma percepção de que os homens devem seguir nas carreiras que envolvem números e códigos, enquanto as meninas devem seguir em profissões de humanas.
Um exemplo clássico que só vem mudando nos tempos de hoje é a engenharia civil, área que sempre foi masculinizada e que apenas agora tem visto a participação feminina crescer. Uma pesquisa encomendada pelo portal G1 indicou um crescimento ininterrupto da presença de mulheres na profissão de 2008 até 2015, e que a tendência é permanecer neste ritmo.
Agora, o desafio é a tecnologia. Mas o efeito dominó tem levado a um outro problema que é a falta de referências femininas no mercado.
Como falamos, as mulheres programadoras existem, mas estão em baixo número e, muitas vezes, não são valorizadas. Por isso, durante muito tempo faltaram modelos femininos de destaque que inspirassem muitas mulheres a seguir na área. Alguns profissionais da tecnologia falam que existem poucas iniciativas que levem conhecimento às mulheres de que a área é receptiva e que esse tipo de trabalho não é masculino. Mas aos poucos, felizmente, essa questão tem mudado, como você verá mais abaixo no post.
Aqui fica uma reflexão: a inversão de gêneros na tecnologia aconteceu aproximadamente nos anos 1980, na época em que os computadores pessoais se popularizaram e grandes líderes como Steve Jobs e Bill Gates despontaram. A partir de então, o nome de mulheres programadoras começou a ficar cada vez mais raro no hall da fama do mundo da tecnologia.
Essa coincidência nos leva a um questionamento. Será que essa inversão de papéis tem alguma ligação com o fato de que nessa época as principais inovações eram atribuídas aos homens? Se for, quais são os modelos delas?
Inicialmente, muitas meninas que entram na área costumam achar que a linha do tempo da tecnologia é contada do ponto de vista dos homens que contribuíram. Apesar de a história recente da tecnologia envolver mais líderes masculinos, a trajetória da computação tem diversos pontos marcantes em que as mulheres foram protagonistas.
Recentemente, entrou na lista de indicados ao Óscar o filme “Estrelas Além do Tempo”, que coloca em primeiro plano três mulheres negras que trabalharam como “computadores humanos” na NASA. A tarefa delas era resolver equações complexas, necessárias para o sucesso de projetos astronômicos. A história revelou engenheiras e matemáticas brilhantes, que foram peça-chave para a ida do primeiro americano ao espaço.
Além disso, vale lembrar que os primeiros programadores da história, na verdade, eram figuras femininas. Reunimos aqui algumas mulheres notáveis que abriram espaço para inovações importantíssimas:
Ada Byron foi a programadora pioneira da história. Foi responsável por ter escrito o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina no século XIX.
O aparelho computava valores de funções matemáticas. Naquela época, ela também já era capaz de enxergar que a capacidade dos computadores poderia ir além dos cálculos matemáticos e processamento de números.
Hedy Lamarr era uma atriz com grande aptidão para a tecnologia. Além de ficar conhecida por participar de filmes americanos, ela foi conceituada por ter sido uma brilhante inventora. É atribuída a ela a criação de um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas, que foi patenteado em seu nome.
49% da patente da tecnologia foi adquirida, mais tarde, pela Ottawa Wireless Technology, empresa que criou conexões como o Wi-Fi e CDMA.
Grace Murray Hopper foi uma importante figura na programação. Ela era analista de dados da marinha americana e criou a linguagem de programação Flow-Matic, que serviu de base para a criação do COBOL (Linguagem Comum Orientada para os Negócios).
E tem uma curiosidade também. É de autoria dela o termo “bug”, popular até hoje quando as pessoas se referem a falhas no código-fonte. Grace Murray Hopper teria tido um problema em seu computador que tentou resolver sozinha. Ela percebeu que havia um inseto morto no computador.
No Brasil, Edith Ranzini foi uma das quatro mulheres que contribuíram com o projeto “Patinho Feio”, o primeiro computador desenvolvido no Brasil. O trabalho nasceu na Escola Politécnica da USP nos anos 1970. A professora também foi importante mais tarde na implantação do curso de engenharia elétrica com ênfase em computação na instituição.
Se um dia as mulheres já tiveram maior protagonismo na tecnologia e na programação, é porque esse mundinho também pertence a elas e essa realidade pode ser modificada. Mas para atingir o status ideal de igualdade, é preciso que as empresas, os próprios funcionários e até a sociedade como um todo tomem algumas iniciativas. Listamos em tópicos algumas delas:
Se por um lado parece que ainda existe pouca procura pela área na época escolar e universitária, as poucas mulheres depois de formadas mostram bastante engajamento. Hoje, não é raro encontrar projetos que estimulem a presença feminina na tecnologia.
São iniciativas que envolvem grupos de debate, workshops, cursos e competições de programação que somam bastante à experiência das novas mulheres programadoras. Eles são inspiradores, veja só:
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